28.2.10

Hoje

disseram-me que eu dizia isto. Não me lembro de o ter dito desta forma, mas agora passo a dizer:

Os nosso alunos que completam o secundário sabem cada vez menos. Um dia destes, vamos levá-los ao ensino superior com o seguinte recado: "Tomem-nos lá! Eles mal sabem ler, mas mandaram-nos trazê-los..."

25.2.10

Na escola

Ela faltou hoje à minha aula. Fui dar com ela, várias horas depois, sentada num sofá, à espera de ser atendida na Direcção da Escola. Sentei-me ao lado dela e apenas foi necessário perguntar por que motivo tinha faltado para as lágrimas rebentarem: 16 anos, mãe, bebé de 3 meses, família grande e complicada, a própria mãe ausente, a escola cheia de tarefas que já deviam ter sido feitas há mais tempo, depressão pós-parto, a ementa completa.
Ouvi, falei, consolei, limpei lágrimas, fi-la prometer que vai à médica amanhã mesmo, deixei-a um pouco mais calma.
No final da reunião que eu tinha a seguir, voltei a encontrá-la, muito melhor, a brincar com colegas. Ainda bem. Por hoje.

24.2.10

Viva a Tecnologia!

Até agora, ia-se ao Centro de Saúde e esperavam-se duas horitas que um funcionário rabugento nos chamasse ao guichet para marcar consulta para o médico de família. Em opção, ia-se de madrugada, tentando que sobrasse uma consultazinha no apertado dia do nosso doutor.
Agora, bastam uns cliques no site do Ministério da Saúde e a consulta está marcada. Maravilha!

22.2.10

Indignação

O médico especialista atendeu o doente num hospital público, pô-lo ao corrente da sua enfermidade e indicou-lhe três possibilidades de tratamento, todas com iguais hipóteses de sucesso, mas com diferentes percentagens de sequelas. O tratamento mais suave e, portanto, com menos sequelas, só há no privado, informou. Mencionou o hospital e os colegas que poderiam tratar do caso. Instado a indicar uma quantia, referiu-se a cerca de 15.000€.
O doente veio para casa pensar no caso e foi à internet. Em breve descobriu que o tratamento se realiza em dois hospitais públicos de Lisboa, sem encargos, portanto.
Como é que um médico especialista num hospital público desconhece em que hospitais públicos se efectua um tratamento essencial na sua especialidade, mas sabe tudo sobre um privado?

20.2.10

O PS

ainda não escolheu candidato à Presidência e já conta com dois...

10.2.10

9.2.10

"Nasceu"


"A força da sua mão é comovente. Agarra-se ao meu indicador. O desenho fino dos seus dedos e da sua mão inteira é apenas suficiente para cobrir metade do meu indicador. Talvez como veludo, a palma da sua mão é morna e suave.
Lentamente, acorda. Começa a mexer os braços. Leva as mãos à cara. Passa os punhos redondos, magros, pequenos pelo nariz, pelos lábios, pelas faces, pelos olhos fechados. Faz a expressão de uma pessoa grande que não tem vontade de acordar, mas que tem de acordar e que culpa o tempo, os outros ou o destino por ter de acordar.
Levanto-o da cama de ferro onde a enfermeira o trouxe. Sustenho o seu corpo sobre as minhas duas mãos abertas. As suas costas pousadas sobre as palmas das minhas mãos. E os meus dedos seguram-lhe a nuca, o peso da cabeça. E sinto os seus cabelos, talvez como veludo, a fazerem-me festas nos dedos. E existe um instante especial: ele abre os olhos, passa esse instante e volta a fechá-los.
Depois, em tentativas, abre e fecha os olhos, passam instantes, passam outros instantes, e abre e fecha os olhos até deixá-los apenas abertos. Digo-lhe palavras e ele olha muito sério para a minha voz.
Olhamo-nos. Uso um toque delicado para sentir a ponta dos seus lábios, os seus futuros lábios, os seus futuros beijos pousam na ponta do meu dedo. Aproximo-o do meu peito.
Nasceu há pouco mais de duas semanas. Acreditamos que é lindo. Nasceu com 3 quilos e 550 gramas. Correu tudo bem Estamos tão felizes. Olhamos para ele, emocionamo-nos e sentimos vontade de agradecer a alguém."

José Luís Peixoto, in JL

8.2.10

De José Luís Peixoto



"Elas sabem todos os segredos da paciência. Têm certezas dentro de um mundo que não podem partilhar com ninguém. Aceitam cada injustiça e cada contrariedade porque conhecem o preço de cada alegria. Conhecem o valor de cada palavra e do instante em que se diz cada palavra.
Elas estão preparadas para não existirem porque sabem que serão atravessadas por um vulcão. Através dos seus corpos, um vulcão. Terão os olhos fechados no momento em que quiserem assistir a planícies de explosões até ao horizonte. Ficarão paradas, de boca aberta e, mesmo que o mundo inteiro grite, esse será sempre um grito de silêncio, sempre menos que do que um sussurro, menos do que um murmúrio perante o incêndio de sangue, as chamas e as brasas do sangue, perante a vida.
Elas têm raízes de árvores cravadas no ventre. Ramos estendem-se para o futuro que ninguém conhecerá, mas que existe, existe porque são elas que o carregam dentro de si durante nove meses, durante o tempo necessário, a distância necessária, o sofrimento necessário.
Uma sala cheia de mulheres grávidas a esperar. Os seus corpos existem como montanhas. Os seus olhos são poços à noite, são galáxias, são constelações de impossibilidades e de certezas límpidas. Os seus olhos são caminhos, estradas que poderiam continuar para sempre, destinos perpétuos. Os seus olhos são segredos simples e infinitos. às vezes, os seus corpos desaparecem como montanhas.
Esta sala cheia de mulheres grávidas a esperar é o centro exacto do mundo."

in JL

5.2.10

Eu e a Educação Física

Quem me conhece, sabe que este título não joga bem com a minha pessoa. No entanto, eu gostava muito da disciplina de Ginástica, como se chamava no meu tempo. Nós, meninas, tínhamos que usar um tipo de calção-saia, mais uma camisola a que hoje eu chamaria "T-shirt", com o emblema da Mocidade Portuguesa pespegado em cima do peito e umas sapatilhas, tudo branco. Com os seus proverbiais jeito para a costura e falta de dinheiro, a minha mãe fez-me uma bela saia-calça com pregas, muito superior em beleza e elegância ao modelo adoptado. Nada a fazer: teve que refazê-la segundo o padrão.
Tínhamos uma professora de Ginástica: uma senhora aloirada nos seus 40s, que ia para as aulas de saia travada e sapatilhas.
O que fazíamos? Às vezes, ginástica: braços esticados para os lados, dedos das mãos nos pés, sem encolher as pernas, essas coisas.
Numa época, toda a turma jogava ao mata e isso era fantástico! Na maior parte das vezes, a prof ia dividindo a turma em grupos, conforme achava que eram os nossos pontos fortes: um grupo privilegiado ia para as danças folclóricas; o seguinte na ordem das capacidades físicas, ia fazer voley; ainda outro, para o basket. As que sobravam, era uma turma feminina, ficavam sentadas nas bordas do ginásio, a ver as outras e a conversar.
Eu acabava nos dias de sorte a jogar basket, uma das últimas a serem escolhidas. Ou sentada a ver as outras.
Admira que nunca me vejam entrar num ginásio?

1.2.10

"Good Housekeeping"


Fiquem-se com a capa desta Revista de Fevereiro de 1920. Arte de Jessie Willcox-Smith.