7.4.09

Aos meus amigos de Guimarães

Recordo esta velha história verídica, do tempo em que "história" era assim mesmo que se escrevia e não se via por cá o abrasileirado termo "estória".
Éramos todos adolescentes e eu achava que gostava de escrevinhar umas coisas. Houve uns Jogos Florais lá no Liceu, o que na época significava um concurso de textos, prosa ou poesia, e eu decidi aventurar-me. Enviei um pretenso poema e um conto. Como pseudónimo obrigatório escolhi "Violeta".
Acontece que o concurso só teve dois opositores, ou melhor, opositoras, já que eu e a colega F. éramos as únicas, como veio a saber-se. Ora a colega F., com o pseudónimo de "Alma", tinha um grave problema para a época: pensava bem, discorria bem, mas era disléxica, algo que ainda não tinha sido inventado no reino da educação em Portugal. Portanto, ela simplesmente dava muitos e cabeludos erros!
Já estão a ver que os méritos em ganhar tal concurso não eram muitos... e lá ganhei os Jogos Florais com o conto.
No dia aprazado para eu receber o prémio numa festa do Liceu, parece que estava tudo preparado para eu não ser convidada a ler o conto e sim, a F. ser convidada, extra concurso, a ler o dela, que tinha sido excluído dos Jogos. Foi-me ainda sussurrado que a colega me criticava por eu ter escolhido um pseudónimo pretencioso...
Como em muitas outras circunstâncias da minha vida, eu não tinha percebido nada da marosca, eu até gostava da F., mas a amiga M., tu mesmo, M., que andas por aqui de vez em quando, veio alertar-me em cima do acontecimento e obrigou-me a ir a casa buscar uma cópia do meu conto para o ler quando fosse receber o prémio. E foi assim que aconteceu.
A F. foi ao palco ler o conto dela, assim muito a despropósito, e eu fui receber o prémio e li o meu, amplamente aplaudida pela corte de colegas admiradores da minha arte, ou, sei lá, pelos que por qualquer motivo não apreciavam a F.!
Com isto tudo e com todos os antigos colegas que em Guimarães me lêem, só espero que a F. não apareça por aí...

1 comentário:

mica disse...

a amizade protege-nos. é bom ter uma história destas para contar.
bjs