22.2.08

Aquela Instituição

Disse aqui há dias que a minha sogra é, só por si, uma instituição! Mulher valente, de grande força exterior e interior, disfarçada por uma lamúria "ai a minha coluna, ai a minha vista"...
Ninguém a leva a fazer o que ela não quer. Diz que sim a tudo e a todos, mas faz só o que lhe dá na real gana. A ela, ninguém a leva!
Tem apenas mais 20 anos que eu e mais 18 que o primeiro filho, o meu marido, o mais velho entre 8 que deu à luz, de que restam apenas cinco. Foi criada no campo, na zona de Leiria e aos 5 anos a mãe "deu-a" para servir. Nunca mais voltou a casa.
Aos 14, apaixonou-se e foi viver com aquele que seria o pai dos seus filhos, com quem casaria de papel passado uns bons anos mais tarde. Um belo dia, decidiu acrescentar ao nome um que achava que devia ter. Ainda hoje há documentos oficiais com ele, que inclusivamente passou aos filhos!
Trabalhou a lavrar a terra, o filho mais novo metido num poceirão que levava à cabeça e pousava à sombra de uma árvore. Trabalhou em casa de "senhoras". Ao ficar viúva aos 30 e poucos anos, foi trabalhar para uma fábrica.
Era temida na sua juventude, entre a vizinhança. É que a Maria Russa (por ser loira) não deixava o crédito por mãos alheias! Ai de quem se metesse com um dos filhos: virava leoa!
A um médico da "Caixa" que jurou não lhe passar o medicamento que precisava, "puxou a mão atrás" e deu-lhe valente bofetada.
Ajudou-me muito, quando os meus filhos eram pequenos: vinha até cá a casa por uma ou duas semanas, (ela não aguentava mais), e nesse tempo eu aproveitava o prazer de chegar da escola e sentar-me à mesa. Deixava a casa toda num brinquinho, deixava-me o congelador cheio e mimava-me os miúdos com "casadinhos" de manteiga e outras iguarias.
Ainda hoje, ela não é mulher para estar parada. Muito doente do coração há décadas, jura sempre que não verá "o filho mais novo casado" (foi há mais de 20 anos...), ou que não assistirá a um qualquer evento familiar.
Graças a Deus, continua connosco, embora lá na sua casinha que não deixa nem por mais uma, igual a si mesma, dizendo que sim a tudo e fazendo só o que lhe convém...
Sempre me dei muito bem com ela. Esta é a minha humilde homenagem, Avó P.

7 comentários:

Adriana disse...

Que bela homenagem! E a uma sogra :)

Vilma disse...

È muito bom fazer uma homenagem assim. E como diz a Adriana, a uma sogra! :))

Tella disse...

Bonito de se ler! Gosto sempre de ler coisas sobre mulheres fortes.

Anónimo disse...

Mulheres de garra são sempre uma inspiração.
Abraços

Sofia Quintela disse...

Que bonito... A minha sogra também é uma mulher de armas, e por isso, também a admiro muito, mas nós as duas, infelizmente, somos incompatíveis (com grande pena minha).

Anónimo disse...

antes de serem sogras sao primeiro que tudo Mulheres que o sabem ser por isso dps só podem ser boas sogras...

noctivaga disse...

A minha sogra é uma amiga que eu ganhei quando conheci o meu marido. Uma amizade que tem crescido ao longo dos anos.