Eu devia ter 6, 7 anos. Foi na
Igreja Baptista de Viseu que foi projectado um filme que me impressionou
vivamente. Perdoem-me se alguns pormenores estão já esbatidos. Era um jovem
casal que sentiu que Deus o chamava para uma missão. Durante um certo tempo,
eles foram-se preparando para seguir a chamada. Mas o tempo foi correndo,
nasceu uma criança e eles habituaram-se à rotina diária, deixando o sonho da
missão para trás. Mas a criança adoeceu e foi essa doença que os fez despertar
para a missão esquecida. Já não recordo se a criança sobreviveu ou não;
lembro-me bem da parte final do filme, quando o casal volta a entregar-se de
coração para partir para outra terra, cantando o hino nº 298 do Cantor Cristão:
Nem sempre será para o lugar que
eu quiser
Que o Mestre me tem de mandar.
É tão grande a seara já a
embranquecer
A qual eu terei de ceifar.
Se pois a caminho que nunca segui
A voz a chamar-me eu ouvir
Direi: “Meu Senhor dirigido por
Ti
Irei Tua ordem cumprir.”
Eu quero fazer o que queres, Senhor
Farei sustentado por Ti
E quero dizer o que queres, Senhor,
Que o servo Teu deva dizer.
Alguém dentre nós partir em
missão não é de modo algum novidade para mim: o meu próprio pai também foi
missionário. Toda a minha vida convivi com missionários estrangeiros, que
tinham deixado o conforto das suas terras e famílias para vir ajudar-nos em
Portugal.
Por isso, saber que a minha filha
Sara e sua família se preparam para partir em missão para a República Checa não
me é especialmente penoso, até antes pelo contrário. Se é Deus quem os envia,
só posso estar feliz que eles obedeçam. Num país que vê emigrar tantos jovens
em busca de melhores oportunidades, sinto que me coube a melhor parte.
“Como te sentes?”, perguntaram-me
ontem, depois de uma despedida na nossa igreja.
“Sinto-me bem”, respondi por
todas estas razões. Claro, as saudades vão apertar, mas o Senhor que os leva
também mora aqui.