30.11.05

A avozinha da avozinha

Conheci-a tinha eu uns 5 anos. Até então tínhamos vivido numa terra diferente, o que há 50 anos queria dizer ausência de contactos.
Quando ela entrou em nossa casa e na nossa vida, estranhei a sua existência, pois para mim, o meu pai era o Paizinho e não era suposto ter mãe!
Explicada a coisa e vencido o embaraço das primeiras horas, surpreendeu o meu espírito infantil que o nosso gato arisco a tivesse aceite tão incondicionalmente.
Tornou-se rapidamente a nossa Avozinha.
Conversávamos muito. Ia passear com ela a Ranhados (arredores de Viseu), sua terra e do meu pai. Ensinou-me a tricotar um longo cachecol para bonecas, num branco sujo das minhas mãos cheias de outras brincadeiras menos femininas, como por exemplo, jogar à bola com os meus irmãos.
Dizia-me frequentemente: "Quando eu for para o céu, olha para cima, que eu vou estar lá a dizer-te adeus!"
E um dia, muito breve, ela partiu.
Tenho-me esquecido de olhar para o céu.
Mas é em homenagem a ela que me chamo Avozinha.

29.11.05

Amor

Fui muito amada pelos meus pais, mas eles partiram.
Os meus irmãos amam-me, mas eles têm as suas vidas.
O meu marido ama-me, mas é um homem.
Os meus filhos amam-me, mas eles têm os seus próprios cônjuges e filhos.
As minhas netas começam a amar-me, mas elas pertencem ao futuro.
Os meus amigos amam-me, mas eles têm as suas famílias.
Resta-me o Tudo, o Amor Total, que me ama e me aceita de uma maneira absoluta, incompreensível e absurda. Que fez tudo por mim e que nunca, mas nunca me deixa só.
E Nele tenho tudo: amigos, netas, filhos, marido, irmãos e pais.
Que sensação esta, a de ser amada apesar de tudo!

27.11.05

Citação de domingo

"O Senhor chamou pelo nome a Bezalel e o Espírito de Deus o encheu de habilidade, inteligência e conhecimento.(...) Deus lhe dispôs o coração para ensinar a outrem".
(Êxodo, Bíblia)

26.11.05

1ª aula de substituição da minha vida

em quase 36 anos de carreira.
Uma turma de 7º ano (as minhas são de 12º).
Os alunos vão entrando contrariados. Proponho-lhes umas palavras de Alemão, coisa que funcionou há dias com uma colega e outra turma. Não dizem que sim, nem que não.
Começo com uma folha cheia de fotos da Alemanha, para eles tentarem identificar o que se trata: Restaurante, Cerveja, Paragem de autocarro.
Lá me vão fazendo o favor de ir dizendo qualquer coisa, nos intervalos de tentar conversar uns com os outros em voz altíssima. Como falam alto estes miúdos!
Riem-se de me ouvir ler as palavras em Alemão e essa é talvez a melhor reacção que tiro deles.
Meio bloco passa depressa, graças a Deus!

25.11.05

Ex-alunos

Encontrei-a perto da escola. Cumprimentei-a. O nome não me ocorreu imediatamente, mas a cara e voz estão indelevelmente gravados na minha memória.
Venho andando para casa e só algum tempo depois se me faz luz na cabeça: é a S. e foi minha aluna em 2000/2001. Lembro-me do lugar onde se sentava, com quem se sentava e dos seus modos, neste caso, meigos.
Gosto muito de encontrar ex-alunos e verificar o progresso deles, nos cursos que estão a tirar, nos empregos que têm. Às vezes, encontro-os mesmo como colegas!
Não tenho a pretensão de imaginar que os influenciei, mas gosto de pensar que me foi dado o privilégio de 'tocar' um pouco as suas vidas.

24.11.05

Fui mãe

Rute
Fomos pais há precisamente 33 anos.
Aqui, a nossa filha R. tinha quase 5 meses.
A fotografia foi tirada no comboio Amadora-Rossio, num tempo em que ainda havia 1ª classe!
Parabéns, filhota!

22.11.05

O pintor da Amadora


Artur Bual, em exposição na Igreja Católica da Amadora, esta semana.

Há 42 anos


Kennedy morria assassinado. Ironicamente, as últimas palavras que escreveu foram:
"Se Deus não guardar a cidade, de que serve ao guarda acordar?"

Fisherman

De vez em quando, este pescador excede-se. Foi o caso de ontem.

21.11.05

De novo

Norman Rockwell.
Norman Rockwell

20.11.05

Citação de domingo

"Aos 27 anos de idade, enquanto viajava no metro de Leninegrado (hoje S. Petersburgo), fui dominado por um desespero tão intenso que a vida me pareceu parar de uma vez, anulando completamente o futuro e não deixando nenhum significado. De repente, uma frase apareceu por si só: 'Sem Deus a vida não faz sentido'. Repetindo-a, assombrado, eu repassei a frase como numa escada rolante, saí do metro e caminhei para a luz de Deus".
Andrei Bitov in Rick Warren, "Uma Vida Com Propósitos"

19.11.05

A pérola

Sabem certamente como se forma uma pérola.
Num terrível acidente de percurso, uma tempestade, por exemplo, há uma pedrinha minúscula que entra dentro da ostra. Durante anos, a ostra vai fabricando uma substância nacarada com que envolve a pedra, a fim de diminuir o sofrimento causado por ela. Ao fim de, digamos, 15 anos, a pedra transformou-se numa belíssima e muito valiosa pérola.
O Pescador sabe que há pérolas lá em baixo. Mas chegar lá pode significar até a sua própria morte. Em sucessivos mergulhos de apneia, ele desce e procura. Aqui não está, não está ali. Finalmente, encontra-a. Cá está, a Pérola. Como a busca valeu a pena! A pérola vai agora ganhar todo o seu brilho, à luz do sol!

Esta é tua história, meu amigo Labaredas, e do Pescador que te encontrou.

18.11.05

Rectifico

Não resisti e passei boa parte da manhã a preparar materiais para as famigeradas substituições...

Obviamente

em greve.

17.11.05

Falta de ar

Cansaço. Tosse. Expectoração. Qualidade de vida que se deteriora. Sofrimento. Depender de outros para as actividades do dia a dia. Garrafa de oxigénio. Definhar. Falta de oxigénio também no cérebro. Confusão mental. Situação irreversível. Sufocação. Agonia dramática. Morte.
(Descrição da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica - causada pelo hábito de fumar - pelo Dr. Ramalho de Almeida, pneumologista)
Dia Mundial do Não Fumador.

16.11.05

Do valor da informação

A Madona diz que não lê jornais, provavelmente porque não gosta de se ver nos olhos dos outros. Já há muitos anos que um certo candidato a presidente disse o mesmo.

15.11.05

O meu pai

Aqui, com o meu filho.

14.11.05

O que é um prof?

Transcrevo, com a devida vénia, da minha colega href="http://somaisumaprof.blogspot.com/">.

O professor compra uma agenda nova, um caderno bonito, uma caneta verde. Prepara-se com expectativa (com esperança?) para o que o novo ano lhe trará.
O Professor é um aluno que não quis deixar a escola.
O professor zanga-se, "congelado", longe da família, horário mau, vida difícil. Faz promessas e juras: não gasta nem mais um minuto no fim de semana, nada de projectos loucos, nem mais um tostão do bolso, nem mais um tinteiro, uma folha de papel, gota de tinta, gota de sangue, gota de suor. Espreitem uns dias depois. O professor está, outra vez, a fazer a festa com os alunos. A festa é, quase sempre, muito maior.
O Professor tem forma de coração com memória fraca.
O professor não tem endereço electrónico. Não escreve textos no computador. Não quer. Diz que não, que não gosta, que não percebe. O professor insiste que prefere lápis e papel. Nunca, nunca conseguirá. Diz que não vale a pena. E depois...O professor pede ajuda ao filho. O professor faz formação. Aceita a mão de outro professor.O professor dá mais um passo.
O Professor é um caderno já muito cheio, onde encontramos sempre muitas folhas brancas.
O professor fala de saúde, futuro, matemática, inglês, poesia, estudo, música, informática, livros. Sabe fazer projectos, jornais, cartazes, desenhos, receitas, teatro. Cura feridas, ampara tristezas, acalma medos. Escuta segredos, dá conselhos, conta anedotas, prepara passeios, monta exposições. Dirige a escola, dirige um grupo, escreve regulamentos, prepara oficinas, constrói materiais.
O Professor não sabe o que quer ser quando crescer.
O professor faz muitas perguntas, por dentro e por fora dele. O professor gosta que lhe façam perguntas. O professor ensina que as perguntas são a melhor maneira de aprender. O professor acha mais difícil fazer uma boa pergunta do que dar uma má resposta. O professor ensina a perguntar.O professor não sabe todas as respostas.
O Professor é um ponto de interrogação com muitas respostas possíveis.
O professor tem medo. De não conseguir, de não ser capaz, de errar, de acertar, de se perder, de perder alguém. Tem medo de ter medo. Medo de não ter medo. Medo de avançar depressa, de avançar devagar. Medo de ficar parado.O professor tem medo que não aconteça nada.
O Professor usa o medo como meio de transporte.
O professor chora, ri.
O professor sofre, mastiga desgostos, partilha-os se forem maiores do que ele próprio.
Tem sonhos, tem desejos. Às vezes pinta, às vezes canta, outras escreve. Planta flores, cria borboletas, namora, ama, tem filhos, não tem filhos, representa, dança, vai ao cinema.
O professor é feliz, é menos feliz, é feliz outra vez.
O professor fica parado a pensar no que sente.
O professor é de todas as cores por dentro e por fora.
Mais do que o arco-íris. Mais do que a maior caixa de lápis de cor do mundo.
Mais do que todas as cores que se podem imaginar.
O Professor do avesso é tão colorido como do direito.
O professor recomeça tantas tantas vezes, que desiste do prefixo "re".
O professor caminha numa estrada que dá voltas e voltas e voltas...
Não se lembra de ontem. Não sabe o amanhã. Oferece o tempo que tem.
O Professor não tem princípio nem fim.
O professor tem uma magia só dele.
Um feitiço que lhe foi lançado, não se sabe quando nem por que fada.
Ele é Bela ou Monstro, Princesa Adormecida, Gata Borralheira, Capuchinho Vermelho, Branca de Neve. As madrastas, os lobos, as bruxas, as trevas vão andar sempre por aí.
Ele luta, história a história, contra todos eles.
O Professor tem de ser o final feliz de todas as histórias, para que o mundo se salve.
Por entre o som das palavras, o professor é cheio de silêncios que poucos conhecem.
Silêncios que falam, muitas vezes, uma língua que quase ninguém se lembra de ter ouvido.


O Professor é um segredo que se deve contar em voz alta, para toda a gente ouvir.


* Texto publicado no Correio da Educação, CRIAP ASA, nº232, 3 de Outubro 2005. Autora: Teresa Marques, Escola Básica 2,3 de Azeitão.

13.11.05

De novo

de regresso do Portinho da Arrábida, aqui no seu máximo esplendor, numa foto de Acilina. De novo, um fantástico fim de semana, de novo, o convívio com tantos amigos, de novo o toque da Graça!
Portinho da Arrábida

11.11.05

Dia da Escola

Hoje é o dia da minha escola. Podem conhecê-la aqui.

10.11.05

A minha neta J.

aos 4 meses, adora rugir como um leão. Imaginem o que é passeá-la num espaço público, linda bebé no carrinho, as pessoas a tentar ver esta carinha laroca, e de lá de dentro sai um "Grrrrrrrrr"!
Estou convencida que tudo se deve à selva que a mãe instalou na decoração do quartinho dela!
Joana

9.11.05

Desta vez, a beleza!


Gosto muito de Norman Rockwell. Até tenho uma pequena reprodução deste quadro da escola numa parede cá de casa.
Muitos críticos consideram que Norman pintou uma sociedade que nunca existiu. Não concordo. Acho que ele pintou uma América da primeira metade do século XX, muito doméstica, muito genuína. Adoro.

8.11.05

A minha neta M.

aos 18 meses, não gosta definitivamente de aniversários, nem da canção dos parabéns e muito menos de bolos com velas. Ontem, eu e ela vamos vendo um dos livros que lhe comprei, até chegarmos à página da festa de anos. Olha-me muito séria, faz beicinho e rompe num choro de arrancar lágrimas às paredes!

7.11.05

Amen!

Desta vez, estou inteiramente de acordo com João César das Neves!

6.11.05

Citações de domingo

"É verdadeiramente apaixonante ser um discípulo de Jesus".
A.M.P.
"O fantástico em fazermos o nosso trabalho como para Deus é o verificar que Ele está presente e actuante no nosso ambiente de trabalho."
M.E.C.

5.11.05

Tumultos em França

Muito preocupante a forma como as gerações mais novas dos imigrantes se revelam completamente não integradas. Em França, o facto de muitos desses jovens serem muçulmanos aumenta o problema da dificuldade de integração. Quem falhou? A escola, as igrejas, as próprias mesquitas, a vizinhança?
E cá? Já tivémos algumas pequenas amostras deste tipo de problema. Que estamos a fazer para integrar e dignificar as nossas 'gerações mais novas'?
Tudo quanto fazemos a nível das escolas e das igrejas (e estou a falar daquelas a que pertenço) pode ser precioso.

4.11.05

Desvendando o mistério


Pois é ele mesmo, Sebastião José de Carvalho e Melo, na descrição de Smith.
Estava mesmo a ver-se, não estava?

3.11.05

Muito obrigada, sr. Primeiro Ministro!

Os dois dias de férias que nos concede a partir dos 60 anos vão ser preciosos! Para já, espero bem que quando eu lá chegar (se chegar), já o senhor não seja o nosso primeiro. Em segundo lugar, nas escolas secundárias já mal conseguimos gozar os dias que temos... Este ano, tínhamos que as marcar entre 25 de Julho e 31 de Agosto. Todos. De facto, acabei por ter que adiar as minhas férias, por causa dos exames!
Never mind!

2.11.05

Quem é?

"Alto, de bela figura, feições espirituais e expressivas, modos insinuantes, palavra fácil e fluente, voz melodiosa e muito agradável, solidez dos argumentos, brilho na elocução, afabilidade e cortesia no trato particular".
Quem é? Ora adivinhem lá.

1.11.05

1755


É com esta imagem de mundiconvenius.pt que me refiro ao tema irrecusável de hoje.
Interessante descobrir nas leituras que faço que o terramoto e sucessivo maremoto causaram na época uma enorme discussão filosófica sobre o papel da natureza e o de Deus por detrás da natureza, bem à semelhança (em ponto pequeno) do que se deu a propósito do Katrina e dos EUA. Frase simbólica dessa discussão é, para mim, a de Voltaire: "Lisboa está arruinada e dança-se em Paris".
Eu, que em 1969 experimentei uma amostrinha de terramoto, jamais consegui esquecer a sensação de estar por completo à mercê da natureza, de tentar caminhar e cair, de ver o roupeiro a ameaçar cair sobre mim, e sobretudo do ronco surdo que saía da terra.