28.4.08

História IX

Passou-se numa daquelas vilas alentejanas que já parecem esquecidas de todos, incluindo as autoridades, aquelas em que, se paramos a caminho do Algarve, foi apenas porque nos passou algo pela cabeça e saímos da auto-estrada a despropósito. Como todas as terrinhas deste país, esta era também habitada quase exclusivamente por idosos, daqueles que padecem solitariamente a falta de saúde própria dos anos e do abandono a que foram votados.
Um dia, um grupinho deles, que as cataratas e a lista de espera no hospital da sede de distrito tinham deixado às apalpadelas, foi chamado à Casa do Povo, que havia um senhor que queria falar com eles.
A conversa deixou-os perplexos e ansiosos: o benfeitor propunha levá-los a Cuba, destino da moda, onde essas operações se faziam de empreitada e com resultados garantidos. E tudo de graça!
Garantida a sua anuência, os preparativos foram realizados e a viagem marcada.
Conforme vemos pelos telejornais, a viagem decorreu com o sucesso desejado: os idosos voltaram rejubilantes, descobrindo pormenores jamais vistos, ansiosos por rever os rostos conhecidos.
Ansiosos voltaram à terrinha, felizes retomaram a suas vidas, exultantes contaram cada pormenor da viagem, dos aeroportos, do hospital aos familiares mais próximos.
No mesmo dia da chegada, um deles, o mais velho talvez e pertencente à etnia cigana, correu à casa do benfeitor. Levava consigo as fotografias tiradas depois da operação, postais, uma lembrancinha de Cuba, a sua profunda alegria e enorme gratidão. Depois de uma horita de conversa e de trocados os abraços devidos, pergunta-lhe o benfeitor:
-Diga-me lá, ó sr. Romani: onde ficaram os outros nove?

(Esta história sobre a gratidão parece ter um fim absurdo, mas podem ler o respectivo original aqui.)

1 comentário:

Alecrim disse...

O link não funciona, pelo menos não funcionou hoje no meu pc, mas eu lembrei-me logo da história bíblica. E de como somos / sou tão pouco agradecidos (a)