8.2.10

De José Luís Peixoto



"Elas sabem todos os segredos da paciência. Têm certezas dentro de um mundo que não podem partilhar com ninguém. Aceitam cada injustiça e cada contrariedade porque conhecem o preço de cada alegria. Conhecem o valor de cada palavra e do instante em que se diz cada palavra.
Elas estão preparadas para não existirem porque sabem que serão atravessadas por um vulcão. Através dos seus corpos, um vulcão. Terão os olhos fechados no momento em que quiserem assistir a planícies de explosões até ao horizonte. Ficarão paradas, de boca aberta e, mesmo que o mundo inteiro grite, esse será sempre um grito de silêncio, sempre menos que do que um sussurro, menos do que um murmúrio perante o incêndio de sangue, as chamas e as brasas do sangue, perante a vida.
Elas têm raízes de árvores cravadas no ventre. Ramos estendem-se para o futuro que ninguém conhecerá, mas que existe, existe porque são elas que o carregam dentro de si durante nove meses, durante o tempo necessário, a distância necessária, o sofrimento necessário.
Uma sala cheia de mulheres grávidas a esperar. Os seus corpos existem como montanhas. Os seus olhos são poços à noite, são galáxias, são constelações de impossibilidades e de certezas límpidas. Os seus olhos são caminhos, estradas que poderiam continuar para sempre, destinos perpétuos. Os seus olhos são segredos simples e infinitos. às vezes, os seus corpos desaparecem como montanhas.
Esta sala cheia de mulheres grávidas a esperar é o centro exacto do mundo."

in JL

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