30.8.08

100 anos


Nasceu a 30 de Agosto de 1908, no início do século XX, que foi a sua casa, com as suas inovações e as suas guerras. Nasceu em Ranhados, arredores de Viseu, numa humilde família do campo. O seu pai ainda tentou emigrar para França durante a infância dos filhos António e Joaquim, mas não teve sorte nenhuma. Voltou como havia partido.
Por esses motivos, ele teve que começar a trabalhar cedo, numa casa de electrodomésticos e numa relojoaria. A arte dos relógios viria a ser o seu ganha-pão durante boa parte da sua vida.
Tinha 16 anos quando algo surgiu na pacata Viseu que viria a mudar o seu destino por completo: chegaram os protestantes!
Nascido numa família tradicionalmente católica como quase todas as do país rural de então, tinha até chegado a ajudar à missa em miúdo. A chegada dos protestantes a Viseu causou grande agitação e mais tarde, perseguição. O adolescente Joaquim foi com um amigo espreitar o que faziam os protestantes. De tal forma que viria a ser 'agarrado', transformado, impelido para fora da sua terra, para estudar para pastor, o que veio a fazer em Lisboa e no Porto.
Por volta dos 30 é consagrado pastor, casa-se com a Ana, jovem de Matosinhos, e vai iniciar o seu pastorado em Chança, terra alentejana ainda muito em bruto nessa época, onde nem casas de banho havia ainda! É lá que nasce o Joel, seu primeiro filho.
Um ano e tal depois, mudança para Gouveia, agora na Serra da Estrela, onde nasce o Fernando, e pouco depois nova mudança para a Guarda, onde nascem sucessivamente o Silas, o Samuel, a Eunice e a Rute. Fica completa a família.
O seu ministério vai levá-lo ainda a Viseu como pastor e a Guimarães, a iniciar um trabalho missionário pioneiro no difícil Minho. É aí que se acumulam as perseguições, gerando-se um interessante debate entre os dois jornais da terra, um a favor dos protestantes, outro contra.
Já os filhos vão a caminho da idade adulta quando faz a sua última mudança de terra, desta vez para a zona de Lisboa, onde pastoreará as igrejas de Campolide e de Morelena.
Em 1975 perde a sua esposa, um choque de que recuperará com dificuldade. Entretanto, os filhos vão casando e os netos nascendo: Rute, Cristina, David, André, Tiago, Sara, Ana, Ana Isabel, Cláudia, Raquel. A Sara será uma última neta póstuma.
No verão de 1989 conta já com muita canseira e está doente. Não tem muito tempo para sofrer: cai ao hospital e parte para o Senhor que serviu quase toda a sua vida. Foi no dia 2 de Agosto.
Deixou um enorme silêncio no lugar das histórias que gostava tanto de repetir aos netos, mas também um exemplo de dedicação e fé.
Este homem foi Joaquim Lopes de Oliveira, meu pai. Faz hoje 100 anos. Parabéns, paizinho!

10 comentários:

Anónimo disse...

Um beijo, avozinha!
Estou para aqui toda comovida....Grande homem!

Mocas disse...

Linda e interessante história, e comovente também.

Anónimo disse...

aPaizinho, valeu a pena todo o treabalho e canseira,porque já deu muitos frutos.Agora desfrutarás a Coroa de Glória que o Senhor nosso Deus preparou para ti.Parabéns,e um beijo,Paizinho!

Alecrim disse...

Eu hoje estou com as lágrimas à flor da pele, e este texto deixou-me um aperto no peito.
Sem dúvida uma história bonita, com a simplicidade de todas as histórias bonitas.
"Na terra fui apenas um caminho Teu."
(Esta frase foste tu que ma ensinaste.)

Anónimo disse...

Boas, recordações da sua passagem,como Pastor, na nossa, Igreja da Guarda.A nossa homenagem,ao Nosso,Saudoso Irmão.Da Parte da irmã Odete Pires e Lídia Pires.

Big Brother disse...

Muito bem contada esta estória de vida que também é nossa.

Um beijo,
David, um dos netos

Mélia disse...

Gostei de ler sobre o seu pai.

Há coisa de dois anos esperava eu por uma consulta. Um casal falava em tom normal quando o homem perguntava à mulher se sempre foi visitar a campa do pai como tinha pensado fazer, pois era o seu aniversário. A mulher respondeu que não, que estava em tremendo conflito, pois como o pai tinha falecido já não tinha aniversários.

A este ponto, com lágrimas correndo pela minha cara abaixo, pois a ferida da morte do meu pai ainda estava bem aberta, em vóz muito calma lhe disse (sabendo bem que me metia onde não era chamada) que enquanto há memória dos que já partiram, eles continuarão a ter aniversários.

A mulher me agradeceu e disse que iria celebrar o aniversário do seu pai. Entendeu.

Feliz aniversário ao seu paizinho!

CLS disse...

Uma bela história, que as futuras gerações da família gostarão de apreciar, com certeza. Um beijinho.

Anónimo disse...

Emocionei-me...

Mami Reis disse...

É tão bom ler coisas bonitas escritas por outra avó!Também eu sou avó, muito recentemente,até bisavó, dum Benjamin agora com3 meses. E ler o que escreve acerca dum Pai, certamente muito amado,quando hoje, para maior parte dos jovens,os pais são "cotas" fornecedores de mesadas.Nem todos felizmente,mas há sempre um bocadinho de condescendência modos dos nossos jovens.Gostei de ler o que escreveu,Avózinha