22.10.06

Aborto

Já aqui tenho mencionado a minha oposição a que alguém não dê hipótese a que outro viva. Mas, enfim, se insistirem muito comigo poderei concordar que eu própria teria dificuldade de condenar uma mulher que abortou, se o co-responsável não fosse igualmente incriminado.
Mas parece que a proposta de alteração de lei não trata simplesmente de descriminalizar; outro governante nosso, neste caso o ministro da saúde, oferece os bons serviços dos hospitais públicos para o efeito. Agora, limito-me a transcrever (e, em parte, a aplaudir) João Miguel Tavares no DN de sábado:
"Qual é, então, a solução?
Ouço uma velha pergunta: e as mulheres que não têm posses para abortar? Convém esclarecer à partida que a desempregada sem tostão que transporta cinco filhos em cada braço faz parte da mitologia da interrpção voluntária da gravidez. É evidente que ela existe - mas é uma gota de água no oceano da classe média. O que há a fazer, portanto, é descriminalizar o aborto até às dez semanas e deixar o Estado fora do assunto. Quem tem dinheiro que vá a clínicas privadas, e quem não tem que procure soluções junto da sociedade civil. Se os movimentos pró-escolha lutaram durante tantos anos pelo direito da mulher interromper a gravidez, agora que dêem o passo de organizar-se para abrir os bolsos e patrocinar os que não têm posses. Numa Europa profundamente envelhecida, compete ao Estado apoiar quem quer ter filhos. Não pagar a opção de não os ter."

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