Para as pessoas que viviam ou trabalhavam na zona do Chiado, ele era o Louco: desgrenhado, semi-nu, tapado apenas por um velho cobertor nojento, corria toda a zona, assustando as jovens incautas com grandes brados e uivos. Dormia nas traseiras da Estação do Rossio, numa enxerga pior que uma pocilga.
Um dia, o Mestre surgiu na Rua Almeida Garrett: uma tertúlia em breve nasceu à sua volta, quase sempre na esplanada da Brasileira. Os intelectuais e os jovens candidatos a intelectuais enxameavam em roda do que parecia ser o Mestre da moda.
Mas um dia o Louco surgiu e interpelou o Mestre. Ou seria o Mestre que interpelou o Louco? Não se sabe bem o que se passou entre eles, apenas que o contacto foi estabelecido.
Uns dias depois, o Mestre ocupava como de costume a sua cadeira na esplanada da Brasileira e, a seu lado, lavado, penteado, normalmente vestido, calmamente conversando, estava alguém que dificilmente poderíamos idenficar como o Louco. Mas era ele!
O espanto e o temor atingiu toda a população da zona, que vivia ou trabalhava no Chiado: que teria o Mestre feito ao Louco para que ele assim tanto fosse modificado?
O espanto e o temor foram dando lugar à ira: Que fizeram com o nosso Louco? Afinal, qualquer cidade tem direito a conservar as suas figuras típicas, ou não?
Mas em breve, o Mestre foi-se, tal como tinha aparecido: de um dia para o outro. No seu lugar, na tertúlia da Brasileira, marca agora pontos o ex-Louco, o Sábio.
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:-)
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